sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dona "Menininha Lobo"

Tomar café também nos faz lembrar... bem, para uns lembrar e para outros conhecer.
Hoje vou falar, para não dizer prestar um tributo, a "Dona Menininha Lobo". Se você não conhece vao achar o nome no mínimo curioso... mas para pessoas da minha geração (e anteriores) era muito comum, tanto que foi uma dificuldade lembrar qual era o verdadeiro nome desta grande pianista e professora.
Guilhermina de Freitas Lobo nasceu em Campinas em 1904, e foi aluna de Luigi Chiaffarelli e Antonieta Rudge. Mas ninguém a conhece como Guilhermina! É apenas "Nenina", "Menininha" ou "Dona Menininha", como carinhosamente a chamavam seus alunos nos áureos tempos do Conservatório Dramático Musical de São Paulo.
Áureos tempos que eu mesmo não conheci... não fui aluno do conservatório, e mesmo que tivesse sido já não pegaria esta fase.
Suas apresentações públicas foram pouco frequentes, porém com muita dificuldade você ainda poedrá encontrar e ouvir gravações Menininha Lobo. Quem sabe, para a alegria de seus alunos (como a minha dileta amiga Celina) admiradores e para tantos que não a conhecem, logo estejam disponíveis também em uma mídia mais moderna.
Lembro-me de ter ouvido em "LP" várias gravações que perderam-se nas mãos de amigos, nos corredores dos conservatórios, e enfim, pelo mundo. Assim como Dona Menininha Lobo.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Bach, profeta...


Dizer que J. S. Bach é um dos mais importantes compositores da história da música é como afirmar que arroz e feijão é a base da alimentação brasileira. É óbvio.
Também é sabido que grande parte da obra de Bach é de caráter sacro.
Pois bem, usando este fato como ponto de partida vou propor o seguinte trecho do Evangelho segundo São Matheus: “Jesus lhes disse: “Só em sua própria terra e em sua própria casa é que um profeta não tem honra”.
E assim foi com este homem. No seu tempo e na cidade de Leipzig, onde ele morava, Bach não era mais que um bom organista. Muito bom por sinal, mas não muito respeitado... porque além de ser levemente insubordinado tocava coisas "complicadas demais" que não agradavam as pessoas... E certamente não era o único bom organista da Alemanha, os olhos daquelas pessoas de então...
Seriam necessários mais de duzentos anos para que se lhe dessem o devido valor! Mas ah... claro. Bach é Bach! Dizemos com a boca cheia! Como se a nossa soberba fosse justa. Ah... não é nossa culpa se aquela gente era ignorante e não sabia dar valor a ele. E é bem verdade.
Mas vamos tirar um pouco os olhos do livro, dos sonhos... Vamos olhar para o lado.
O mundo não continua exatamente igual?
Se Bach morasse na sua rua você provavelmente passaria por ele sem notar. Se ele tocasse órgão na sua Igreja você o cumprimentaria como de costume e lhe daria o devido respeito como um excelente organista e respeitável membro da sua congregação. E só.
Mas se aparecer na TV alguém que toque tão bem (ou até menos que ele) mas tenha alguns Cds gravados e faça alguma coisa patéticamente exibicionista propositalmente preparada para arrancar palmas de um auditório, ah! Este sim!!! A este dariamos todos os nossos elogios! A ponto de pagar caro para assistir.
Mas Bach... bem... que importa?
Em primeiro lugar ele toca ali na Igreja se fosse grande coisa não estaria. Apesar de todos exaltarem a humildade como sendo uma virtude, quando o artista está fora daquela "aura" do ídolo há uma tendência a não lhe dar valor.
Por isso vamos encerrar simetricamente com outro trecho bíblico: "Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria e seus irmãos Tiago e José, Simão e Judas? Suas irmãs não estão todas entre nós?" Mateus 13:55-56

terça-feira, 27 de abril de 2010

Distraidos Venceremos

sabem... não gosto de Curitiba, mas gosto de Paulo Leminski. Nasci homem tímido e me tornei um urso valente. Entre essas e tantas outras coisas, lembrei-me dessas palavras: "Distraidos Venceremos" que é o título de um livro do poeta paranaense Paulo Leminski.
Eis o primeiro poema deste livro:

Aviso aos náufragos

Esta página, por exemplo
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.

Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.

Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?

Paulo Leminski
(1944-1989)

E a partitura é de certa forma isso mesmo. Por ser tanto não é nada. Ela não é a música. Mas ela é o nosso elo com os tempos em que o único registro era a tinta e o papel.
Mas ela nos contraria e nós a contrariamos.
Como eu e a vida, poe exemplo. Mas nesse interin tornamo-nos em algo. Essa tensão entre o ser e a vida é o viver; tanto quanto o que se dá entre nós, os instrumentos e a partitura faz surgir a música.
E porque "Distraidos Venceremos"? Logo nós músicos que somos obsecados por perfeição e ser os melhores?
Exatamente! Por tudo isso. É como jogo da velha, um jogo que não se ganha, mas é preciso joga!
Ouvir música e tocar são duas atividades cerebrais completamente distintas.
Mas quando, por distração, conseguimos ouvir enquanto tocamos. Ah... que bonito. É música!
Distraidos Venceremos!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Sonatina

Quando o compositor escreve uma obra de pequenas proporções procura logo um diminutivo para batizar. Por exemplo: Fughetta, Sinfonietta ou Sonatina.
Trata-se de uma peça que mantem as características originais da forma de referência sem noentanto extender-se muito ou ainda sem muita preocupação em tornar-se célebre.
Pois bem... no caso da sonata a sonatina é exatamente isso. Encontra-se exemplos desde garndes compositores como Mozart e Beethoven até aqueles que ninguém ouviu falar... (ou quase ninguém)
Mas dois compositores tornaran-se bastante conhecidos por este sub-gênero. São eles: Muzio Clementi e Friedrich Kuhlau.
Todo mundo que já estudou piano por pelo menos dois anos conhece estas peças!
Não espere nenhuma obra prima.
Mas são perfeitas para tocas descomprometidamente em casa, ou mesmo para tocar para os amigos entre uma xícara de café ou outra.É como bolinho de chuva. Não é um confeito fino, de degustação complexa. Mas tem todos os elementos necessários e ainda é docinho e com canela.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A Sonata Clássica

Esta sim foi uma inveção genial! E ainda por cima apropriou-se de um termo que todo mundo conhecia mas ninguém sabia exatamente o que era: "A SONATA"
É difícil dizer quem de fato inventou esta forma. Aliás eu particularmente acho que poucas coisas tem um único inventor. Na maior parte das vezes muitas pessoas vem trabalhando separadamente e as coisas começam a pipocar, daí alguem por sorte ou esperteza acaba sendo considerado o "inventor". Mas certamente, no caso da sonata, devemos reconhecer que Haydn contribuiu muito para que a sonata se tornasse uma das principais formas até nos dias de hoje.
Muito bem. Como funciona a sonata?
Simples: ABA
Então não tem nada de novo?? Porque já falamos que ABA é uma forma muito simples e há muito tempo utilizada...É verdade. E parte do grande sucesso está aí. Ou seja: é simples, coerente e dinâmica.
Mas a grande novidade não está no ABA... está no "Bitematismo"! e muito mais do que isso, nas tonalidades contrastantes!!! Afinal de contas, no barroco já haviamos chegado à elaboração da tonalidade. E para falar a verdade já estavamos até, de certa maneira, passando dos limites.
Por isso veio esta saborosa novidade!
Aqui vai a receita: pegue um tema, uma melodia qualquer (quanto mais simples melhor!) numa determinada tonalidade. No nosso exemplo abaixo ela está em Dó Maior e vai do compasso Nr. 1 ao compasso Nr.4
Crie uma "ponte" preparando para uma outra tonalidade (de preferência a Dominante), no caso Sol Maior. Para fazer isso acrescente aos poucos as notas que são diferentes entre uma tonalidade e outra. Observe o Fa# aparecendo no compasso Nr.6 na mão esquerda e no compasso Nr.7 na mão direita.
Agora crie outro tema nesta nova tonalidade. Confira os compassos de Nr. 9 até Nr.11
E para terminar faça uma nova "ponte" desta vez para voltar para a tonalidade original.
Vamos chamar tudo isso de EXPOSIÇÃO, ou parte AAgora pegue elementos desses temas e coloque em tonalidades mais afastadas e bem contrastantes. Vamos chamar isso de DESENVOLVIMENTO, ou parte B.
Agora repita o primeiro tema que você criou em Do Maior e... NÃO!!! O segundo tema não é mais em Sol Maior!!! Agora vem o "pulo do gato"! você agora vai trazer o segundo tema para Do Maior. E esta parte vamos chamar de REEXPOSIÇÃO, ou A'
Este apostrofe (') indica que não é mais exatamente igual a parte A.
Então a nossa forma ficou ABA'
É simples e genial!!!
Claro que isso é apenas uma "receita de bolo", extremamente didática e apesar de perfeita para ilustrar o básico de uma forma sonata está longe de descrever todos os elementos que realmente compoem uma sonata.
Mas certamente já vai dar para comer com café...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Linguagem muito empolada...

Certa vez tomando café com o meu amigo, e diga-se com louvor, grande oboista: Gilson Barbosa; ele comentou que havia escutado no rádio a transmissão de uma rádio-novela. (óbviamente uma retransmissão). E ele destacou a maneira bizarra com que as pessoas falavam nesta rádio-novela, e para melhor ilustrar o caso fez uma imitação de uma personagem com a seguinte frase: "Porque se cria um filho com tanto desvelo? E ele se torna... um marginal, um meliante! Vamos... vamos imediatamente ao "p" lácio da justiça!" (não, não é erro de digitação! Isto foi para ilustrar como o personagem falava. Algo como "Pelacio" ao invés de palácio).
Observe como a linguagem além de arcaica é empolada.
Claro que quando ele me contou isso nós dois choramos de tanto rir. Ninguém mais fala assim, e mesmo na época isso também era exagero.
Na música acontece a mesma coisa. Há pessoas que tocam de maneira tão exagerada ou cheia de vícios e maneirismos que a música acaba soando exatamente como essa transmissão.
É comum escutarmos críticas à maneira como por exemplo Karl Böhm gravou o "Messias" de Händel nos anos 1960. Soa um tanto estranho aquela orquestra imensa e romântica arrastando-se pela partitura a fora. Da mesma forma como me parece um tanto quanto ridículo uma interpretação demasiadamente acelerada a título de pureza histórica.
Então é uma questão de equilíbrio? Também; tudo pede equilíbrio. Mas neste caso estou falando de limpeza, clareza.
A música precisa de clareza. E contaminar a música com elementos desnecessários é que faz com que o discurso torne-se ridículo. Quer seja com a "megalomania" do romantismo ou com a "desinformação de época".
Em primeiro lugar é preciso ter um texto músical limpo, e isso começa pela edição. Depois é preciso saber exatamente o estilo e a linguagem em que aquela música foi escrita (é o que alguns chamam de "informação de época"). Daí em diante é com o artista.
Seja como for, música é como água. Tem que ser pura.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Claves e mais claves...


Esta é uma clave de sol, certo? Claro. Ela tem um formato da letra "s" de sol, certo? ERRADO!!!Embora aparentemente seja um raciocínio lógico possui um erro fatal: a origem.
Vejamos: nós chamamos as notas de DO, RE, MI, FA, SOL etc... por uma definição teórica, quando então estes nomes foram tirados de um Hino a São João, na Idade Média. Porém nessa época a "clave de sol" não estava ainda em uso. A que se usava era a CLAVE DE DO. Como a que está representada a seguir:

Muito bem!!! Agora já sabemos que a clave de sol não tem o formato de um "s", mas então qual é a sua origem? Bem, é uma letra também. Porém a letra "g"
Já sei que visto assim fica difícil imaginar. Prometo numa próxima ocasião postar um Fac-Símile (de onde vem a palavra "fax") do Método de Violino de Leopold Mozart que está todo escrito a mão com claves antigas.
Mas voltemos ao caso...Quem toca violão está acostumado com a notação Anglo-Saxônica na qual as notas são A, B, C, D etc... e já percebeu que tem tudo a ver a clave de sol ter por símbolo o "g", já que nesta notação a nota sol se escreve "G" e o DO escreve-se "C".
Então é por isso que aquela clave de DO da Idade Média é representada pela letra "C"!!!
NÃO SENHOR! Outro erro e fonte... esta notação ainda não existia também! A nota "DO" era chamada de "UT" (como é até hoje em Francês), e aquilo que parece um "C" na realidade é um "U".
Vejamos a evolução da clave de Do (a) e as várias possibilidades de utilização (b)Agora ninguém mais cai na "pegadinha"... logo a clave de fa deve ter outra história...
Não... ela é a letra F mesmo!

e foi a que menos mudou com o passar do tempo.






Agora sim podemos dar a escolástica resposta para a pergunta: "Para que servem as claves?" resposta: "Para dar nome as notas"
e ir mais além: "Mas para que tantas claves?" resposta: "Para facilitar a leitura"