segunda-feira, 14 de junho de 2010

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Partita e Sonata

Qual a diferença entre uma Partita e uma Sonata?
A rigor: toda e nenhuma.
Como já disse, a sonata barroca não é formalmente clara; menos ainda em comparação a sonata clássica. E a partita?
Bom... em primeiro lugar existem poucos exemplos de partita. Quando usamos esta palavra geralmente estamos nos referindo as partitas para violino solo de Bach. E nesse caso elas são muito mais próximas da suite. Aparentemente Bach usou este nome apenas para diferencias das demais obras com acompanhamento. De resto são suites normais. E o que tem a ver com a sonata então? Nada.
Pode, e existem muitos casos, de sonatas que se assemelham em organização de movimentos a uma suite. Principalmente de compositores que sofreram influência francesa, sejam eles nascidos onde forem.
Mas a sonata, sobretudo aquela que vai dar origem a sonata clássica, distancia-se tanto da suite quanto da partita.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Franz Schubert e a Sonata D.995

Outro ícone do roamantismo é Franz schubert. Aliás... vejamos o triângulo do próto-romantismo: a surdez de Beethoven (que não é compositor romântico, é classico), a loucura de Schumann e a pobreza de Schubert.
Ach... quanto exageiro! Mas é assim o mundo gosta de dizer... tst tst tst
Bom, vamos ao que interessa.
A sonata D.995 de Schubert é em La Maior, o extremo oposto da sonata op.11 de Schumann.
Menos romântica que a de Schumann? Sei lá... talvez. Mas porque? Porque Schubert era mais próximo de Beethoven? Essa é a minha tese... mas isso não quer dizer que não esteja inserida no contexto do romantismo. Afinal não é preciso suicidar-de para ser romântico, ou o que dizer de Brahms?
É muito significativo que a vida de Schubert foi muito diferente da de Schumann, e mesmo do que se pensa dela com um todo.
Em primeiro lugar Schubert pouco ligava para a pobreza... aliás, era o estilo de vida dele. E na Viena daquela época nem mesmo os mendigos passavam fome ou frio.
Ele era um boêmio incorrigivel e levava a vida assim. Possuia uma capacidade de concentração, que pode ser observada nesta sonata, que fazia com que ele pudesse escrever até no meio do carnaval.
E além do mais o romantismo é também esta liberdade de viver fora dos padrões, e isso ele soube colocar muito bem na sua música.
Sabia que não iria viver muito, e aparentemente não estava muito preocupado com isso.
E está enterrado ao lado de Beethoven. Quer mais?? Ele não!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Schumann, sonata Op.11


Esta sonata é algo como o que poderia ter sido e não foi... a promessa de um Schumann que infelizmente não se concretizou.
Antes de nos lamentarmos pelo infeliz, deprimido e suicida compositor... vamos tentar entender mundo em que ele vivia e como, (possivelmente) ele se encaixava nele.
Estamos falando da metade do Século XIX, quando então as coisas pareciam durar para sempre. E apesar do ideal "Romântico" ainda não havia chegado o apogeu desta era. Isto quer dizer que qualquer um que partisse nessa direção não estava muito em conformidade com as regras sociais.
Havia de tudo, assim como hoje, e por certo a juventude não era mais ajuizada. A medicina que hoje não é capaz de curar completamente muitas enfermidades, era ainda pior naquela época.
Muito bem. Agora imagine um certo Robert Schumann... muito inteligente, culto e vacilante entre o estudo das leis (que lhe daria uma profissão estável), e a música. Solte este rapaz naquele mundo; exposto ao alcool, prostitutas, livros, sagas heróicas, poetas, frio, amores fulgazes e sonhos. Tantos que permeavam a sua infância, florestas, letras... e por fim decide abandonar a faculdade.
Não vou sequer comentar a sua paixão pela filha do seu professor de piano... entre outras.
Coloque tudo isso numa "Grande Sonata", eis a sonata op.11 de Schumann!
Ao que parece ele havia vivido muito bem a vida! Talvez até passado do limite...
A Penicilina só seria descoberta em 1928, ou seja, na época de Schumann não possuia tratamento eficaz, e pode-se atribuir a esta doença parte dos sintomas da sua doença mental. Ele contraiu esta doença na juventude. Passou do limite outra vez ao forçar o limite físico causando uma lesão permanente na mão que lhe impedia de tocar piano corretamente, principalmente para o seu nível de exigência. E por fim assim como já indicava quando abandonou a faculdade de direito, estava clara a sua faltade habilidade para lidar com burocracias e que lhe custou a diretoria do conservatório.
Parcialmente, Schumann consegiu transcender e equilibrar todos estes problemas, mas jamais como na Sonata Op. 11
Naquela época, talvez... é uma especulação sem resposta, mas talvez...
se ele tivesse sido um pouco mais comedido na vida... ou se tivesse nascido 30 anos depois... então seria o compositor que a Sonata op.11 promete!
Foi genial, não há dúvida. Mas é como no concerto em la menor, é uma alegria que quaaaase chega... uma tristeza mal resolvida.
Mas enfim... é Schumann!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Darius Milhaus


Um vento francês soprou no Rio de Janeiro por volta dos anos de 1920. Mas isso não é nenhuma novidade, aliás o Rio chegou a chamar-se França Antártica, mas isso não vem ao caso.
Estamos falando deste compositor que bebeu na música de salão brasileira e escreveu "Saudades do Brasil".
Conhecido por ser o criador da "Politonalidade", Darius Milhaud é um compositor curioso. Escrevia sem medidas, e embora grande parte de sua obra seja pouco criteriosa como dizem seus detratores algumas alcançam um nível de excelência.
Claro, compará-lo com Villa-Lobos e Stravisnky é no mínimo covardia... aliás, comparações são quase sempre covardes e inúteis.
Mas se quisermos cometer ainda mais uma covardia, Milhaud é um gênio de criatividade perto de Vincent d' Indy (seu professor, e de quem Villa-Lobos leu o "Curso de Composição"). d'Indy tem tanta criatividade quanto um esquadro.
Darius Milhaud, na verdade, foi um catalizador da música urbana; foi também uma espécie de experimentalista da ortodoxia musical. A sua música é no mínimo curiosa. Vale a pena ser ouvida. Não é pretenciosa, não quer ser uma "obra prima" e não quer agradar.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Clarinete (1ª Parte)

Resolvi fazer um post sobre o clarinete dividido em partes para facilitar a leitura.
Porque este instrumento possui tantas variantes que é necessário bastante tempo para abordar com certa propriedade as suas peculiaridades.
Mas afinal que tem de mais o clarinete? Todo mundo conhece este intrumento! Ele toca na banda do coreto, no jazz, no chorinho na orquestra e etc... É isso mesmo! Ele é bem versátil, e não é só; possui também uma família considerável também.
Vejamos os mais "comuns"
  • Requinta – Em (Mib)
  • Clarineta Soprano (clarineta padrão) – o mais comum – geralmente afinado em C(Dó),Bb(Sib),A(Lá)
  • Clarineta Basset – Em A (lá) – muito usado em concertos para clarinete em lá, sobretudo no concerto de Mozart e quinteto de Mozart, este clarinete atinge notas de mais graves além do registro usual da clarineta padrão.
  • Cor de basset ou Corno Basseto – espécie de clarinete em Fá, tem o corpo ligeiramente diferente (curvo ou angular), muito usado por Mozart
  • Clarineta Alto – Mib
  • Clarinete Baixo ou Clarone (este nome é praticamente uma exclusividade brasileira) – Bb

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dona "Menininha Lobo"

Tomar café também nos faz lembrar... bem, para uns lembrar e para outros conhecer.
Hoje vou falar, para não dizer prestar um tributo, a "Dona Menininha Lobo". Se você não conhece vao achar o nome no mínimo curioso... mas para pessoas da minha geração (e anteriores) era muito comum, tanto que foi uma dificuldade lembrar qual era o verdadeiro nome desta grande pianista e professora.
Guilhermina de Freitas Lobo nasceu em Campinas em 1904, e foi aluna de Luigi Chiaffarelli e Antonieta Rudge. Mas ninguém a conhece como Guilhermina! É apenas "Nenina", "Menininha" ou "Dona Menininha", como carinhosamente a chamavam seus alunos nos áureos tempos do Conservatório Dramático Musical de São Paulo.
Áureos tempos que eu mesmo não conheci... não fui aluno do conservatório, e mesmo que tivesse sido já não pegaria esta fase.
Suas apresentações públicas foram pouco frequentes, porém com muita dificuldade você ainda poedrá encontrar e ouvir gravações Menininha Lobo. Quem sabe, para a alegria de seus alunos (como a minha dileta amiga Celina) admiradores e para tantos que não a conhecem, logo estejam disponíveis também em uma mídia mais moderna.
Lembro-me de ter ouvido em "LP" várias gravações que perderam-se nas mãos de amigos, nos corredores dos conservatórios, e enfim, pelo mundo. Assim como Dona Menininha Lobo.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Bach, profeta...


Dizer que J. S. Bach é um dos mais importantes compositores da história da música é como afirmar que arroz e feijão é a base da alimentação brasileira. É óbvio.
Também é sabido que grande parte da obra de Bach é de caráter sacro.
Pois bem, usando este fato como ponto de partida vou propor o seguinte trecho do Evangelho segundo São Matheus: “Jesus lhes disse: “Só em sua própria terra e em sua própria casa é que um profeta não tem honra”.
E assim foi com este homem. No seu tempo e na cidade de Leipzig, onde ele morava, Bach não era mais que um bom organista. Muito bom por sinal, mas não muito respeitado... porque além de ser levemente insubordinado tocava coisas "complicadas demais" que não agradavam as pessoas... E certamente não era o único bom organista da Alemanha, os olhos daquelas pessoas de então...
Seriam necessários mais de duzentos anos para que se lhe dessem o devido valor! Mas ah... claro. Bach é Bach! Dizemos com a boca cheia! Como se a nossa soberba fosse justa. Ah... não é nossa culpa se aquela gente era ignorante e não sabia dar valor a ele. E é bem verdade.
Mas vamos tirar um pouco os olhos do livro, dos sonhos... Vamos olhar para o lado.
O mundo não continua exatamente igual?
Se Bach morasse na sua rua você provavelmente passaria por ele sem notar. Se ele tocasse órgão na sua Igreja você o cumprimentaria como de costume e lhe daria o devido respeito como um excelente organista e respeitável membro da sua congregação. E só.
Mas se aparecer na TV alguém que toque tão bem (ou até menos que ele) mas tenha alguns Cds gravados e faça alguma coisa patéticamente exibicionista propositalmente preparada para arrancar palmas de um auditório, ah! Este sim!!! A este dariamos todos os nossos elogios! A ponto de pagar caro para assistir.
Mas Bach... bem... que importa?
Em primeiro lugar ele toca ali na Igreja se fosse grande coisa não estaria. Apesar de todos exaltarem a humildade como sendo uma virtude, quando o artista está fora daquela "aura" do ídolo há uma tendência a não lhe dar valor.
Por isso vamos encerrar simetricamente com outro trecho bíblico: "Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria e seus irmãos Tiago e José, Simão e Judas? Suas irmãs não estão todas entre nós?" Mateus 13:55-56

terça-feira, 27 de abril de 2010

Distraidos Venceremos

sabem... não gosto de Curitiba, mas gosto de Paulo Leminski. Nasci homem tímido e me tornei um urso valente. Entre essas e tantas outras coisas, lembrei-me dessas palavras: "Distraidos Venceremos" que é o título de um livro do poeta paranaense Paulo Leminski.
Eis o primeiro poema deste livro:

Aviso aos náufragos

Esta página, por exemplo
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.

Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.

Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?

Paulo Leminski
(1944-1989)

E a partitura é de certa forma isso mesmo. Por ser tanto não é nada. Ela não é a música. Mas ela é o nosso elo com os tempos em que o único registro era a tinta e o papel.
Mas ela nos contraria e nós a contrariamos.
Como eu e a vida, poe exemplo. Mas nesse interin tornamo-nos em algo. Essa tensão entre o ser e a vida é o viver; tanto quanto o que se dá entre nós, os instrumentos e a partitura faz surgir a música.
E porque "Distraidos Venceremos"? Logo nós músicos que somos obsecados por perfeição e ser os melhores?
Exatamente! Por tudo isso. É como jogo da velha, um jogo que não se ganha, mas é preciso joga!
Ouvir música e tocar são duas atividades cerebrais completamente distintas.
Mas quando, por distração, conseguimos ouvir enquanto tocamos. Ah... que bonito. É música!
Distraidos Venceremos!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Sonatina

Quando o compositor escreve uma obra de pequenas proporções procura logo um diminutivo para batizar. Por exemplo: Fughetta, Sinfonietta ou Sonatina.
Trata-se de uma peça que mantem as características originais da forma de referência sem noentanto extender-se muito ou ainda sem muita preocupação em tornar-se célebre.
Pois bem... no caso da sonata a sonatina é exatamente isso. Encontra-se exemplos desde garndes compositores como Mozart e Beethoven até aqueles que ninguém ouviu falar... (ou quase ninguém)
Mas dois compositores tornaran-se bastante conhecidos por este sub-gênero. São eles: Muzio Clementi e Friedrich Kuhlau.
Todo mundo que já estudou piano por pelo menos dois anos conhece estas peças!
Não espere nenhuma obra prima.
Mas são perfeitas para tocas descomprometidamente em casa, ou mesmo para tocar para os amigos entre uma xícara de café ou outra.É como bolinho de chuva. Não é um confeito fino, de degustação complexa. Mas tem todos os elementos necessários e ainda é docinho e com canela.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A Sonata Clássica

Esta sim foi uma inveção genial! E ainda por cima apropriou-se de um termo que todo mundo conhecia mas ninguém sabia exatamente o que era: "A SONATA"
É difícil dizer quem de fato inventou esta forma. Aliás eu particularmente acho que poucas coisas tem um único inventor. Na maior parte das vezes muitas pessoas vem trabalhando separadamente e as coisas começam a pipocar, daí alguem por sorte ou esperteza acaba sendo considerado o "inventor". Mas certamente, no caso da sonata, devemos reconhecer que Haydn contribuiu muito para que a sonata se tornasse uma das principais formas até nos dias de hoje.
Muito bem. Como funciona a sonata?
Simples: ABA
Então não tem nada de novo?? Porque já falamos que ABA é uma forma muito simples e há muito tempo utilizada...É verdade. E parte do grande sucesso está aí. Ou seja: é simples, coerente e dinâmica.
Mas a grande novidade não está no ABA... está no "Bitematismo"! e muito mais do que isso, nas tonalidades contrastantes!!! Afinal de contas, no barroco já haviamos chegado à elaboração da tonalidade. E para falar a verdade já estavamos até, de certa maneira, passando dos limites.
Por isso veio esta saborosa novidade!
Aqui vai a receita: pegue um tema, uma melodia qualquer (quanto mais simples melhor!) numa determinada tonalidade. No nosso exemplo abaixo ela está em Dó Maior e vai do compasso Nr. 1 ao compasso Nr.4
Crie uma "ponte" preparando para uma outra tonalidade (de preferência a Dominante), no caso Sol Maior. Para fazer isso acrescente aos poucos as notas que são diferentes entre uma tonalidade e outra. Observe o Fa# aparecendo no compasso Nr.6 na mão esquerda e no compasso Nr.7 na mão direita.
Agora crie outro tema nesta nova tonalidade. Confira os compassos de Nr. 9 até Nr.11
E para terminar faça uma nova "ponte" desta vez para voltar para a tonalidade original.
Vamos chamar tudo isso de EXPOSIÇÃO, ou parte AAgora pegue elementos desses temas e coloque em tonalidades mais afastadas e bem contrastantes. Vamos chamar isso de DESENVOLVIMENTO, ou parte B.
Agora repita o primeiro tema que você criou em Do Maior e... NÃO!!! O segundo tema não é mais em Sol Maior!!! Agora vem o "pulo do gato"! você agora vai trazer o segundo tema para Do Maior. E esta parte vamos chamar de REEXPOSIÇÃO, ou A'
Este apostrofe (') indica que não é mais exatamente igual a parte A.
Então a nossa forma ficou ABA'
É simples e genial!!!
Claro que isso é apenas uma "receita de bolo", extremamente didática e apesar de perfeita para ilustrar o básico de uma forma sonata está longe de descrever todos os elementos que realmente compoem uma sonata.
Mas certamente já vai dar para comer com café...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Linguagem muito empolada...

Certa vez tomando café com o meu amigo, e diga-se com louvor, grande oboista: Gilson Barbosa; ele comentou que havia escutado no rádio a transmissão de uma rádio-novela. (óbviamente uma retransmissão). E ele destacou a maneira bizarra com que as pessoas falavam nesta rádio-novela, e para melhor ilustrar o caso fez uma imitação de uma personagem com a seguinte frase: "Porque se cria um filho com tanto desvelo? E ele se torna... um marginal, um meliante! Vamos... vamos imediatamente ao "p" lácio da justiça!" (não, não é erro de digitação! Isto foi para ilustrar como o personagem falava. Algo como "Pelacio" ao invés de palácio).
Observe como a linguagem além de arcaica é empolada.
Claro que quando ele me contou isso nós dois choramos de tanto rir. Ninguém mais fala assim, e mesmo na época isso também era exagero.
Na música acontece a mesma coisa. Há pessoas que tocam de maneira tão exagerada ou cheia de vícios e maneirismos que a música acaba soando exatamente como essa transmissão.
É comum escutarmos críticas à maneira como por exemplo Karl Böhm gravou o "Messias" de Händel nos anos 1960. Soa um tanto estranho aquela orquestra imensa e romântica arrastando-se pela partitura a fora. Da mesma forma como me parece um tanto quanto ridículo uma interpretação demasiadamente acelerada a título de pureza histórica.
Então é uma questão de equilíbrio? Também; tudo pede equilíbrio. Mas neste caso estou falando de limpeza, clareza.
A música precisa de clareza. E contaminar a música com elementos desnecessários é que faz com que o discurso torne-se ridículo. Quer seja com a "megalomania" do romantismo ou com a "desinformação de época".
Em primeiro lugar é preciso ter um texto músical limpo, e isso começa pela edição. Depois é preciso saber exatamente o estilo e a linguagem em que aquela música foi escrita (é o que alguns chamam de "informação de época"). Daí em diante é com o artista.
Seja como for, música é como água. Tem que ser pura.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Claves e mais claves...


Esta é uma clave de sol, certo? Claro. Ela tem um formato da letra "s" de sol, certo? ERRADO!!!Embora aparentemente seja um raciocínio lógico possui um erro fatal: a origem.
Vejamos: nós chamamos as notas de DO, RE, MI, FA, SOL etc... por uma definição teórica, quando então estes nomes foram tirados de um Hino a São João, na Idade Média. Porém nessa época a "clave de sol" não estava ainda em uso. A que se usava era a CLAVE DE DO. Como a que está representada a seguir:

Muito bem!!! Agora já sabemos que a clave de sol não tem o formato de um "s", mas então qual é a sua origem? Bem, é uma letra também. Porém a letra "g"
Já sei que visto assim fica difícil imaginar. Prometo numa próxima ocasião postar um Fac-Símile (de onde vem a palavra "fax") do Método de Violino de Leopold Mozart que está todo escrito a mão com claves antigas.
Mas voltemos ao caso...Quem toca violão está acostumado com a notação Anglo-Saxônica na qual as notas são A, B, C, D etc... e já percebeu que tem tudo a ver a clave de sol ter por símbolo o "g", já que nesta notação a nota sol se escreve "G" e o DO escreve-se "C".
Então é por isso que aquela clave de DO da Idade Média é representada pela letra "C"!!!
NÃO SENHOR! Outro erro e fonte... esta notação ainda não existia também! A nota "DO" era chamada de "UT" (como é até hoje em Francês), e aquilo que parece um "C" na realidade é um "U".
Vejamos a evolução da clave de Do (a) e as várias possibilidades de utilização (b)Agora ninguém mais cai na "pegadinha"... logo a clave de fa deve ter outra história...
Não... ela é a letra F mesmo!

e foi a que menos mudou com o passar do tempo.






Agora sim podemos dar a escolástica resposta para a pergunta: "Para que servem as claves?" resposta: "Para dar nome as notas"
e ir mais além: "Mas para que tantas claves?" resposta: "Para facilitar a leitura"

domingo, 28 de março de 2010

Noção de Forma

Claro! Tudo, ou quase tudo, tem forma.
Ou estrutura formal. As vezes trata-se mesmo de uma "FÔRMA" (usando uma grafia bem antiga), mas o fato é que nós gostamos e compreendemos coisas com "pé e cabeça". E no fundo é disso que se trata.
Claro, tudo depende ds distância que olhamos... do macro para o micro. Se estamos olhando de longe o todo é primeiramente dividido em grandes partes, e essas por sua vez em partes menores e assim por diante. Até chegar na menor estrutura, que em música chamamos "inciso", ou "ictus". Bacana, não é? Sim, é como chegar ao átomo.
Mas vamos começar olhando bem de longe, para uma compreenção mais global.
Vamos pegar, por exemplo, "Rosa Amarela"

Olha a Rosa amarela, Rosa
Tão Formosa, tão bela, Rosa
Olha a Rosa amarela, Rosa
Tão Formosa, tão bela, Rosa

Iá-iá meu lenço, ô Iá-iá
Para me enxugar, ô Iá-iá
Esta despedida, ô Iá-iá
Já me fez chorar, ô Iá-iá

Nota-se claramente que há duas partes (vamos usar letras para identificar cada parte): uma que começa com "Olha a rosa amarela..." (Parte A) e outra que começa com "Iá-iá meu lenço..." (Parte B)
Villa-Lobos tornou célebre esta simples cantiga popular. Mas não é preciso sequer ter melodia para perceber duas partes diferentes.
Então dizemos que a forma desta cantiga é: AB
Mas suponhamos que ele quisesse repetir depois da parte "Iá-iá meu lenço..." (Parte B) novamente a parte "Olha a rosa amarela..." (Parte A)
Aí então teriamos uma forma: ABA
Portanto trata-se de observar as diferenças e semelhanças.

sábado, 27 de março de 2010

Sonata

uma invenção genial do Barroco?
Não! Apenas um termo que tornou-se uma forma genial no Classicismo!!!
No Barroco Sonata significava apenas uma peça para "soar", muito provavelmente este termo foi derivado da "Canzona per sonare". De fato representa uma oposição à "Tocata" que literalmente significa algo para ser tocado. Isto é, tocado num instrumento de teclado. Repare bem, alguém já viu tocata para flauta? Tocata para violino?
Mas por outro lado Sonata aplica-se a qualquer instrumento (menos voz...)
Então qual é a peculiaridade desta forma? FORMA? Eu falei forma??? Ah... desculpe, isto ainda não existe definitivamente no Barroco... Teremos que esperar ainda 100 ou 200 anos (depende de que fase estejamos) para falar em "Forma Sonata".
Por enquanto a Sonata é apenas um nome que se aplica a muitas e muitas peças completamente diferentes.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Arco barroco X Arco Moderno

É claro, o que eu comentei sobre as diferenças entre o violino barroco e o moderno são bastante superficiais; o mesmo se aplica aos arcos. Mas isso tem por objetivo preparar o terreno para assuntos futuros, nos quais iremos realmente nos dedicar.
Pois bem... o arco era, antes, um arco. |) Sim, algo parecido com uma madeira reta e um arco de crina. Considerando que nessa época tratavam-se de instrumentos renascentistas, cuja construção era bem mais rudimentar, não precisava mais do que isso...
Já com o violino barroco o arco melhorou um pouco a sua arquitetura, o que permitiu um avanço técnico significativo por parte dos músicos.
Com um arco renascentista não era possível mais que um simples movimento de "vai-vem". Fazer saltar o arco na corda??? Que é isso! Mas com o arco barroco isso e outras coisas tornaram-se possíveis.
Já a mudança radical acontece com o francês Tourte, que (desculpe o trocadilho, mas é irresistivelmente verdade...) entorta o arco no sentido oposto e abre um mundo de possibilidades para o músico. Aí sim! Além de facilitar os golpes de arco já conhecidos torna possível o surgimento de inúmeros outros.
Mas não se perdeu nada com isso? Claro que sim! Sempre que há alguma grande evolução que rompe com o sistema anterior e acrescenta algo novo, ao mesmo tempo elimina algo também. Nesse caso a desigualdade de peso e tensão que tinham que ser compensadas com a velocidade jamais podem ser reproduzidas com o arco de Tourte. Sim, perdemos aquele sabor desigual do barroco que somente seria recuperado (parcialmente) na segunda metade do século XX quando começou a interpretação com instrumentos de época.
vejam alguns tipos de arco:



Os dois primeiros são arcos barrocos, o terceiro um arco de "transição" e os outros dois já são no modelo Tourte.
Obs. Haviam outros arcos entre o barroco e os chamados arcos modernos que não o de Tourte, mas não tão significativos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Violino Barroco X Violino Moderno

não só o oboé evoluiu, mas também o violino! Sim, apesar de não ser uma mudança radical como a do oboé (que praticamente tornou-se outro instrumento), também o violino passou por modificações. Não foram mudanças estruturais, mas pequenas coisas que possibilitaram uma evolução de técnica e sonoridade.
Por exemplo: as cordas eram feitas de tripa. (Sim! Tripa animal, a mesma usada para fazer linguiça), o cavalete era ligeiramente mais baixo e bem menos curvo e também não havia queixeira nem espaleira.
Acha pouco? Vou explicar: como as cordas eram de tripa era preciso ter muito mais cuidado para elas não arrebentarem e com o cavalete quase plano era preciso prestar muita atenção para não tocar duas corda ao mesmo tempo.
Isso era ruim? Depende... para tocar, por exemplo, o concerto de Tchaikovsky sim, é praticamente impossível. Para tocar uma partita de Bach? Não. É mais fácil.
Ou seja, muito bom para a época. Tanto que hoje existem pessoas que procuram aproximar-se cada vez mais dos chamados "estilos de época" e optam por tocar com o violino como era no período barroco.
Ah! Tudo isso sem falar do arco, que era completamente diferente. Mas vamos falar da evolução do arco depois.

quinta-feira, 18 de março de 2010

O Oboé



Muito bem...
que raio de instrumento é esse?
Trata-se de um instrumento de sopro que tem o seu nome com origem no francês "Hautbois" (ôboá) que significa madeira aguda. Depois este nome foi migrando para outros países e ficou oboé (com ou sem acento... depende do país)
Na esquerda vemos um antecessor do oboé, no meio o oboé barroco e finalmente o oboé moderno.
O período barroco, século XVII, foi a época de ouro do oboé que juntamente com o violino foram instrumentos muito requisitados e pode-se dizer mesmo que definem a sonoridade deste estilo.
Mas eu não sabia nada disso quando vi pela primeira vez este instrumento! Sabia apenas que era um instrumento de sopro que tinha um som maravilhoso e que aparentemente dava um trabalho danado porque o sujeito que tocava passava mais tempo desmontando o instrumento do que tocando... às vezes ele saia no meio do ensaio da orquestra e eu perguntava: Não vai mais tocar hoje? e ele respondia: Não dá... tá entupindo muito...
obs. nesta época eu tinha 12 anos...