sabem... não gosto de Curitiba, mas gosto de Paulo Leminski. Nasci homem tímido e me tornei um urso valente. Entre essas e tantas outras coisas, lembrei-me dessas palavras: "Distraidos Venceremos" que é o título de um livro do poeta paranaense Paulo Leminski.
Eis o primeiro poema deste livro:
Aviso aos náufragos
Esta página, por exemplo
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?
Paulo Leminski
(1944-1989)
E a partitura é de certa forma isso mesmo. Por ser tanto não é nada. Ela não é a música. Mas ela é o nosso elo com os tempos em que o único registro era a tinta e o papel.
Mas ela nos contraria e nós a contrariamos.
Como eu e a vida, poe exemplo. Mas nesse interin tornamo-nos em algo. Essa tensão entre o ser e a vida é o viver; tanto quanto o que se dá entre nós, os instrumentos e a partitura faz surgir a música.
E porque "Distraidos Venceremos"? Logo nós músicos que somos obsecados por perfeição e ser os melhores?
Exatamente! Por tudo isso. É como jogo da velha, um jogo que não se ganha, mas é preciso joga!
Ouvir música e tocar são duas atividades cerebrais completamente distintas.
Mas quando, por distração, conseguimos ouvir enquanto tocamos. Ah... que bonito. É música!
Distraidos Venceremos!
terça-feira, 27 de abril de 2010
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